O filme conta a história de um homem com mãos de tesoura que foi criado por um inventor que vivia em uma antiga mansão no alto de uma colina, o qual antes de morrer lhe daria a última parte faltante em seu corpo: as mãos. Porém, seu criador morre antes de completá-lo e Edward continua vivendo só e sem contato social e ainda com as suas mãos de tesoura.
Lindo enredo dramático, com conteúdo inteligente e emocionante, este filme nos fala sobre as diferenças e sobre o pensamento da sociedade norte-americana, onde o padrão americano do "tudo é perfeito" é quebrado através da figura de Edward, um homem inocente, estranho e só. A vida dos personagens é abalada diante da presença do indivíduo irreverente e as pessoas retratadas no filme acabam deixando de lado suas próprias vidas, interessadas em conhecer a vida alheia, cuja violência simbólica traz para Edward diversos problemas, até que o mesmo volte a ficar enclausurado novamente na torre de sua mansão.
A temática do filme nos faz refletir sobre a razão de tantos padrões na sociedade, principalmente padrões estéticos que nos regem mesmo que de forma inconsciente. O porquê da imposição da ideia de sermos sempre louváveis aos olhos dos outros se nem ao menos sabemos exatamente quem somos.
Os ditames que nos são impostos desde o nascimento, por uma sociedade massificada nos torna seres cujas identidades buscamos nos outros, naquilo que os outros fazem e naquilo que são. Esquecemos de olhar para nós mesmos e nos conhecer e acabamos regendo e sendo regidos pelo alheio.
Edward é um ser a parte de tudo isso. Como um mero espectador simbólico de tudo o que a vida representa, ele testa a sociedade e descobre o quanto as pessoas podem ser fúteis e cruéis e o quanto o passar dos dias não passa de um mero espetáculo, independente dos sentimentos ou da razão de outrem.
O preconceito para com o personagem do filme, não está no fato de Edward ter mãos de tesoura, mas sim pelo fato dele ser alheio à vida cotidiana. As pessoas usam-no de diversas formas em proveito próprio e a inocência de Edward perante o mundo o conserva na solidão.
Muitos há que vivem nesta clausura, não em uma torre ou em qualquer lugar outro, mas na inocência de não saber lidar com o mundo e de ter que sofrer no silêncio da solidão mesmo estando entre muitos.
Flavi Cavalcante.